(Foto: Mayko Silva)
Vanderlei: “Um dia eu vou largar esse trem aqui e vou embora pra casa”
Cena comum nas ruas de toda grande cidade do país é a presença de moradores de rua. No bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, não é diferente. Na rua Ulhoa Cintra, que tem apenas um quarteirão, Seu Vanderlei Soares, de 53 anos, vive com mais três adolescentes, Dayane, Cristiana e Léo, e uma mulher, que ele não quis dizer o nome. O senhor, que afirma ter nascido e sido criado na rua, tem casa, mas prefere viver entre seu “povo”, como ele mesmo define. “Eu gosto de ficar mais na rua que em casa sabe. Eu prefiro ficar aqui, porque eu fui criado e nascido aqui”. Ele é catador de papel, tem um filho de 28 anos, que mora no bairro Morro Alto, e é separado há mais de vinte anos.
Vanderlei fala que mora na rua onde ele está porque ele pensa nisso como um dever. Ele prefere morar na rua e ajudar as pessoas que ele trata como se fosse família, como é o caso de uma das meninas, Dayane, do que dormir sob um teto, e ficar sozinho. “Eu não fui embora pra casa até hoje por causa desses meninos aí. Eu cuido de todo mundo aqui. Eu estou aqui nessa vida por causa desse povo”, diz. O homem explica que o motivo principal para cuidar dessa nova “família” é o fato de, ao contrário dele próprio, a mulher e os três adolescentes não terem onde morar. “Eles perderam a casa, invadiram a casa deles no Taquaril”.
O senhor também fala que não vê problemas em morar na rua. Todos no bairro, que ele diz conhecer como se fosse a palma de sua mão, o respeitam e ele nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por causa de sua situação. Além disso, ele recebe ajuda para se alimentar. “Tem uns que quando passam deixam um ‘marmitex’ aqui pra gente. Mas quando não vêm, eu mesmo arrumo aqui pra gente, no restaurante ali da esquina. Qualquer lugar que eu for aí eles dão. Todo mundo aqui me conhece. Aqui todo mundo me respeita. Nós não somos de bagunça. É tranquilo”, afirma. Apesar disso, ele não quer viver pelo resto da vida na rua. Um dia ele pretende ir embora, quando as pessoas que ele cuida não precisarem mais de sua ajuda. “Um dia eu vou largar esse trem aqui e vou embora pra casa. Deixa só resolver os problemas daqui”.
Abuso
A única reclamação que Vanderlei faz é em relação a fiscais da prefeitura e a alguns policiais. Segundo ele, muitas vezes alguns desses fiscais chegam e sem nenhum aviso pegam as suas roupas e as das outras pessoas que vivem com ele. “Eles levam tudo. Tudo que eles veem eles levam. Fazem maior ruindade com a gente aqui. Eles não falam nada. Saem pegando, põe dentro de caminhão e vão embora. Eles fazem covardia com a gente”. Ele afirma que para ele não é problema nenhum levar alguma peça de roupa dele, porque, por ele ter casa, ele tem até mais roupas, mas por conta dessas coisas que acontecem, Dayane e Cristiane só têm a roupa do corpo. Além disso, ele fala que há alguns abusos. “Eles chamam a polícia e põe a polícia pra bater na gente aqui. Uma vez eles bateram num menino aí, maior covardia da polícia”.
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ResponderExcluirMayko,
ResponderExcluira matéria conta uma história muito interessante, bastante condizente com a proposta do blog.
Por isso vai aí algumas sugestóes para este e outros posts:
- você poderia tentar ouvir outras fontes, mostrando uma outra visão dos fatos. Exemplos como a própria prefeitura, fiscais, donos de estabelecimentos próximos de onde costuma ficar seu Vanderlei seriam importantes.
- buscar alguns números que exemplifiquem melhor a quantidade e o perfil destes moradores de rua.
- tentar gravar alguma sonora com alguns deles traria uma dimensão real muito bacana para as matérias.
Bom, espero que ajude.
Abraço,
Alexandre Diniz
Mayko, a sua reportagem está muito boa, até por que é uma coisa inusitado. É só uma sugestão já que eu não sei se você vai continuar nesse mesmo foco. Acho que você podia apurar mais a fundo sobre esses abusos que aparecem no final.
ResponderExcluirAbraço
Mayko, a matéria não deixou nenhuma pergunta sem resposta.
ResponderExcluirPara as próximas postagens, concordo com o Alexandre, você poderia gravar depoimentos. Pode ser difícil e invasivo, mas não custa tentar. Acho que daria uma valorizada e ficaria mais real ainda.
Mayko,
ResponderExcluirExcelente tema. Você fez uma abordagem assaz categórica, demonstrando um tino jornalístico apurado. No entanto, aconselho a busca a outras fontes próximas que tenham condições de ampliar a ilustração do cenário social da região.
Um abraço e mantenha-se nessa linha, você está no caminho do sucesso.
Sempre passo nessa rua apra ir pra casa da minha namorada. Muitas dessas vezes passo tarde da noite, ou até de madrugada.
ResponderExcluirJá tinha reparado esse pessoal morando por lá, mas, provavelmente, ninguém tinha dado tanta atenção à situação deles.
Gostei de conhecer a história dele. Achei a matéria bem completa.
Beijo!
Mayko, a escolha do tema é pertinente e a matéria ficou bem construída, só achamos que você podia ter acesso a fontes oficiais.
ResponderExcluirUm complemento de áudio ou vídeo também seria bacana :)
beijo!
Mayko,fico feliz em saber que existem pessoas no mundo que se preocupam com a vida dos outros. Você me passou essa imagem, que antes de mais nada serve como exemplo para que outras pessoas o façam. É de grande utilidade públida mostrar a vida destas pessoas para que não exista tanto preconceito. É muito fácil passar por uma rua e ao ver essas pessoas procurar o outro lado do meio fio para passar, mas o mais difícil é se colocar no lugar delas. Parabéns!
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