Foto: Taynaá Nayara
Camilo Jesuíno Netto acompanha pelos jornais as decisões relativas ao andamento das obras do OP na Praça São Vicente
Foto: Taynaá Nayara
Trânsito lento e grande número de veículos já são rotina na entorno da Praça São Vicente, onde serão realizadas as obras do Orçamento Participativo Digital
O projeto aprovado após vencer o Orçamento Participativo do ano de 2008, não será mais realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte. As melhorias serão financiadas pelo Governo Federal
ALEXANDRE CARNEIRO,
MARIANA ARAÚJO,
ROGER DIAS,
TAYNAÁ NAYARA,
7° PERÍODO
Dois anos depois de vencer o Orçamento Participativo Digital (OP), da Prefeitura Municipal, a obra da Praça São Vicente de Paula, na interseção dos bairros Dom Cabral, Inconfidência e Dom Bosco, na Região Noroeste de Belo Horizonte, ainda não teve seu início. Em entrevista coletiva em nove de março, o prefeito Márcio Lacerda anunciou que as obras da Praça São Vicente não serão mais realizadas com recursos da prefeitura. O projeto será financiado pelo governo federal, por meio do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT). O próprio órgão ficará encarregado pelo projeto arquitetônico e pela licitação. Enquanto isso, a intervenção no Portal Sul, no Bairro Belvedere, Região Centro-Sul, que ficou em segundo lugar, já saiu do papel.
Ao todo, 124.320 eleitores participaram da votação, e desse total, 48.739 elegeram a intervenção na Praça São Vicente de Paula. O projeto escolhido pela maioria da população prevê a criação de dois viadutos paralelos nas vias marginais do Anel Rodoviário, que devem ser construídos sobre parte da Praça São Vicente de Paula e a Avenida Ivaí. Também deverão ser construídas duas trincheiras no sentido perpendicular às pistas do Anel Rodoviário. A praça vivencia uma situação que já virou rotina: trânsito lento e grande aglomeração de veículos, principalmente nos horários de pico.
Por sua vez, o Portal Sul ficou atrás na escolha, com 33.935 votos (39% do total). A intervenção prevê a construção do conjunto de trincheiras e alças viárias que ligarão diretamente a BR-356 à rodovia MG-30, caminho para Nova Lima, região metropolitana da capital. A obra teve ajuda da iniciativa privada, além de recursos do município.
TEMPO PERDIDO Durante o período de votação do OP, representantes dos bairros Coração Eucarístico, Minas Brasil, Dom Cabral, Vila São Vicente, Alípio de Melo e São Vicente fizeram intensa campanha para a vitória da Praça São Vicente. "Fomos em vários locais, tentando convencer as pessoas a votarem na obra. Distribuímos cartazes, levamos a ideia às escolas, igrejas e até na rádio local. É frustrante ver que todo este trabalho foi em vão", explica capitão Iracy Firmino, presidente da Associação de Moradores do Coração Eucarístico (Amacor).
O estudante universitário Gabriel Costa Duarte, de 20 anos, morador do Minas Brasil, participou e acompanhou a votação do OP e lamenta que a obra não tenha sido iniciada: "Nós ficamos revoltados porque foi a nossa obra que venceu. Não faz sentido você ganhar e não levar", diz.
Para o presidente da Associação de Moradores dos Minas Brasil e Padre Eustáquio, Camilo Jesuíno Netto, todas as cinco obras do OP são imprescindíveis para a população. "A comunidade se empenhou para a realização da reforma da Praça São Vicente. Não é questão de as outras intervenções do OP não serem importantes, porque também vão favorecer outras pessoas. Mas a obra da pracinha vai atender aos interesses de nossa região", observou.
Netto acredita que o projeto inicial não seja alterado: "Entendo que ela será realizada da forma que foi nos apresentado pela Prefeitura. Se ocorrer alguma mudança, espero que a comunidade seja convocada para que tenha conhecimento delas", diz.
A Praça São Vicente de Paula recebe o trânsito da Região Noroeste. Moradores dos bairros Alípio de Melo, Dom Bosco, Glória, Novo Progresso e Coqueiros, dentre outros, passam diariamente pelo local, totalizando um fluxo de 90 mil veículos e cinco mil ônibus, de acordo com dado que consta no Plano de Empreendimentos do Orçamento Participativo.
O taxista Jânio de Sousa, de 38 anos, trabalha há 16 na profissão e aponta que os horários mais turbulentos do trânsito são no começo da manhã e no fim da tarde. "Essa situação tem que melhorar. A Praça não está mais suportando o fluxo de carros que passa aqui", revela. Ele afirma que as obras estão demorando e que nunca presenciou um engenheiro da prefeitura no local para avaliar o projeto.
Já o comerciante Jaime Rodrigues, de 43 anos, morador do Bairro Minas Brasil, considera que as obras do Portal Sul também são essenciais, pois atenderão as pessoas dos bairros ao redor e também de Nova Lima e de quem viaja para o Rio de Janeiro. Ele defende a obra, desde que não prejudique a economia da região. "Não adianta querer queimar comércio, pois isso gera lucro", afirma.
De acordo com o gerente do Orçamento Participativo da Regional Noroeste, Sebastião Ambrósio, as obras da Praça São Vicente também beneficiariam as regiões da Pampulha e Contagem. O custo das obras está estimado em cerca de R$ 60 milhões. No anel, os recursos previstos são de R$ 700 milhões.
Sebastião Ambrósio explica que não há atraso no começo das obras. "O projeto está dentro da normalidade, já que envolve um extenso processo burocrático. A Prefeitura tem até o fim do ano para começar a executar a obra, pois o prazo para começar o trabalho é de dois anos após a votação", explica. Ele disse ainda que o projeto já passou pela Secretaria do Meio Ambiente, e que no presente momento, aguarda a licitação por parte do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT). Segundo nota divulgada no portal da prefeitura, esta obra será licenciada até o fim desse mês.
REFORMAS Ainda de acordo com Ambrósio, a prefeitura deverá iniciar até o final do ano uma série de intervenções no Anel Rodoviário. Tais intervenções constituem-se de 13 obras em pontos de interseção com vias de grande fluxo de veículos. Ambrósio garante que o projeto na Praça São Vicente de Paula será o primeiro a ser implementado, como consequência da vitória no Orçamento Participativo 2008.
Curiosamente, uma das obras que fazem parte da série de intervenções, no cruzamento entre o Anel Rodoviário e a Avenida Tereza Cristina, também disputou o Orçamento Participativo 2008, e recebeu 10.524 votos, o equivalente a 8% do total. Este número posiciona o projeto como o menos votado entre os cinco elegíveis. No ano passado, o local foi palco de vários acidentes. Um deles, ocorrido em 11 de setembro, matou cinco pessoas e envolveu 11 veículos.
Jornal Marco - Edição 272 - Março 2010